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Relato da viagem de volta à Coreia (Parte 2)

Esta é a segunda parte do relato da aluna de mestrado, Eunjae Kim, que conta como foi a quarentena ao chegar na Coreia (postamos a primeira parte aqui no Blog - confira)


Foi no dia 1 de abril que finalmente decidi comprar passagem. Entre várias que encontrei para sair no dia 3, a opção com menos risco de cancelamento foi a Qatar, fazendo escala em Doha. Apesar da pressão de fluxo de caixa, a companhia aérea ainda estava oferecendo suas linhas aéreas mantidas para a Europa, Ásia e Austrália com solicitações de governos para não suspender seus voos e repatriar seu povo.


Ao entrar no aeroporto de Guarulhos fiquei espantada. Muito embora uma grande proporção de passageiros eram asiáticos, apenas o balcão da Qatar estava aberto. Chegou minha vez para despachar bagagem e uma funcionária verificou que eu era coreana. Perguntou se eu já tinha baixado o aplicativo. Pensei que ela iria confirmar meu check-in e mostrei meu número da reserva no aplicativo de Qatar. E ela respondeu: “Não, você não tem o aplicativo do Ministry of Health and Welfare da Coreia? Baixe o aplicativo agora. Até desembarcar no aeroporto da Coreia, tem que preencher checklist de sintomas que você tem.” Era o Self diagnosis mobile app desenvolvido pelo Ministério. Após ver o aplicativo instalado no meu celular, ela despachou minha malinha e deu passagem.


Cheguei ao aeroporto de Doha depois de 15 horas de viagem. Lá tinha mais voos em comparação com Guarulhos. Até passaram páginas de tela de informações de voos. Passageiros eram mais variados, europeus, latinos, asiáticos, etc. Ainda assim, o aeroporto estava muito mais vazio do que nos tempos normais.


Andando devagar para o sentido do portão, vi coreanos, cuja maioria eram jovens e pareciam estudantes. Sentei em uma cadeira longe de todos, e abri o aplicativo para fazer checklist. Dos 4 sintomas, febre (acima de 37,5), tosse, dificuldade na respiração e dor de garganta, eu estava com tosse e dor de garganta, a qual que tinha piorado durante a primeira viagem. Quando entreguei a lista, o número de call center (1339) de Centros de Controle e Prevenção de Doenças da Coreia, apareceu.


Após duas horas embarquei no avião. Com tanta angústia, preocupação e cansaço, logo dormi e não me alimentei bem. O voo durou 8 horas. Assim que avião pousou no aeroporto de Incheon, todo mundo levantou, pegou mala, e ficou em pé esperando liberá-los. Estava demorando bastante para a fila de espera se movimentar. Esperamos bastante. Anunciaram que seria liberado somente passageiros que tivessem preenchido os dois questionários.


O primeiro questionário era, Travel Record Declaration, que tínhamos que informar número de voo, data de chegada, endereço da Coreia e número disponível que pudessem contatar na Coreia, além de, 1) países que visitei em 14 dias, 2) cidade e país onde embarquei, 3) nome de faculdade onde estudo na Coreia e 4) nome de empresa onde trabalho na Coreia. O segundo, Health Questionnaire, precisei descrever meus sintomas mais detalhadamente, diarreia, nariz escorrendo, dificuldade na respiração, vômito, tosse, dor abdominal, dor de garganta, febre, dor da cabeça, dor muscular, picada de mosquito etc., e mencionava que, caso preenchesse falso, iria enfrentar sentença de 1 ano de prisão ou 10.000.000 won (aproximadamente 8.250 dólares) de multa. Além desses, recebi mais um que era guia sobre a instalação de Self Quarantine Saftey Protection App desenvolvido pelo Ministry of the Interior and Safety, cujo usuário comum era CORONA.Depois de preencher todos, saí do avião.


A fila de dentro do avião não foi a única. Com o Health Questionnaire e o Travel Record Declaration preenchidos nas mãos, aguardamos em mais uma longa fila em boarding bridge. Eram cinco da tarde. Duas senhoras estavam na entrada do aeroporto verificando questionários de passageiros e separando os que tinham sintomas dos que não tinham, antes de nós pisarmos no aeroporto. Mostrei meu papel para uma delas. Ela me falou para seguir a fila do lado, indicando direção contrária da maioria que não tinha os sintomas. Foi lá que vi, pela primeira vez, pessoas com roupas de proteção.

Tinham três etapas. Na primeira, haviam aproximadamente vinte passageiros e três enfermeiras, que mantinham distância de 1 metro uns dos outros. Uma enfermeira confirmou mais uma vez de onde vim, perguntou se passei por mais outros países fora o Brasil, o que estava fazendo no Brasil (se trabalhava, viajava ou estudava), desde quando estive lá, quando surgiram os sintomas, se tomei remédio antes da viagem, etc. e anotou tudo.


Na segunda etapa, médicos liam as anotações da enfermeira e faziam algumas perguntas para os passageiros. Esses médicos deixaram alguns irem embora para casa. Eu não.


Quase a metade das pessoas, inclusive eu, passamos para a terceira etapa que era a consulta médica. Como tinha cerca de 6 médicos, não cheguei a esperar nem 1 minuto para ser atendida.


Escutando meus sintomas, o médico viu a necessidade de fazer o teste do covid-19 e me enviou para uma sala para aguardar para ir a National Quarentine Station, que ficava no aeroporto. Fomos eu e um menino que começou viagem em dezembro do ano passado, mas sem querer tinha que encerrar a viagem na Turquia.


Esperamos uma hora naquela sala e quando chegou a ambulância, partimos para o local. Foi destinado a mim um quarto de pressão negativa com banheiro, tv, frigobar, ventilador, mesa, cama solteira, armário com roupas de cama lavadas

e termômetro. Mas o quarto era trancado pelo lado de fora e a janela estava parafusada. Ao entrar no quarto, a enfermeira passou toalha, sabonete e marmita (janta) informando que faria teste tarde da noite. Disse que se precisasse de algo eu poderia chamá-los através do telefone do quarto. Eram 7 da noite.


Após banho e janta, adormeci sem perceber, mas acordei às 10 da noite. Logo depois, entrou um funcionário e fez o teste do covid-19 no nariz e na boca. Disse que o resultado sairia, por ligação, na manhã seguinte, pois levaria de 4 a 6 horas para o exame ficar pronto.


Depois do teste, não consegui pegar no sono. Naquela madrugada senti todos os sintomas do coronavírus que via na tv. Dificuldade na respiração, dor abdominal, dor muscular, dor de garganta, tosse, nariz escorrendo e febre alta. Nesse momento eu tinha quase certeza que estava infectada pelo vírus. Levantei da cama e medi a temperatura. Estava 37,3 no ouvido direito e 37,1 no ouvido esquerdo.


Porém, como confirmei que não estava com febre, me senti um pouco sossegada pensando que os sintomas poderiam derivar da minha preocupação. Para não ficar obcecada por pensamentos negativos, precisava me distrair e liguei tv. Mesmo assim, era praticamente impossível aguardar até às 6h da manhã, devido à ansiedade. Me esforcei para não assistir notícias, porque só se falava em coronavírus, mas parei em um canal. Passava breaking news uma noticia que dizia que “Jovem na faixa dos vinte anos que tinha chegado do Qatar, no dia anterior, tinha sido diagnosticado/a com covid-19.”




Eu cheguei do Brasil, não tinha vindo do Qatar, mas tinha passado pelo Qatar. No entanto, pensei que podia ser eu, porque no dia anterior, apenas eu e o outro rapaz precisamos fazer o teste.

Quando deu 6h, liguei para perguntar à que horas poderia saber o resultado. Responderam que às 7h iriam avisar.


7:00.

7:20.

7:30.

7:35 tocou telefone.

“O seu resultado deu negativo.”

(to be continued...)


Gravei um vídeo curto do quarto de quarentena que fiquei por 14 horas esperando para fazer teste. link

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